sexta-feira, 5 de setembro de 2008


Os relacionamentos de amor sempre me surpreendem. Quando penso que entendo alguma coisa a respeito do assunto, esbarro com o nariz na porta do espanto.
Na realidade, com algumas exceções, todas as relações começam com entusiasmo e acabam com indiferença. Aqui cabem parênteses (não me refiro àquelas que duram até a que a morte separa. Mas sim, as que tem vida curta num cotidiano muito comum).
Voltemos, pois, aos comentários sobre os relacionamentos em seus preâmbulos e epílogos.
No início, somos provocados por uma sensação de descoberta. Cada momento tem a dimensão do infinito. O olhar tem mais brilho, o coração bate e rebate pulsações em um simples pensamento sobre o outro, que não é mais um outro qualquer, é o prolongamento de nossa própria pele. Suspiramos, divagamos, ficamos andando sobre nuvens. E o melhor, é que sorrimos sem motivo algum. Basta imaginar o próximo encontro, o abraço seguinte. Tudo é euforia e encantamento.
Outro detalhe interessante é que quando começamos a nos envolver afetivamente com alguém, esse alguém, coincidentemente, na maior parte das vezes, nos corresponde em gênero, número e grau a todas as nossas manifestações, ansiedades, expectativas.
Extremamente bom sentir, ao mesmo tempo, idêntica atração, mútuos interesses. Parece que conspiram a nosso favor em reuniões tribais de alta esfera, lá pelos lados do reino dos anjos e nos proporcionam esse estado de ânimo.
A partir daí, nós mulheres, passamos a habitar uma nova dimensão. Plenas de entusiasmo, de muito vigor e ar nos pulmões, saltamos de asa delta, praticamos wind surfe, escalamos montanhas, pescamos no Pantanal, preparamos quitutes culinários, sorrimos à toa, encaramos os problemas “numa boa” e tudo o mais que se fizer necessário para acompanhar o bem amado no maior alto astral.
Ele, por sua vez, lembra do nome do nosso perfume preferido, ajeita o cobertor nos ombros dessa “amada pelo amor predestinada, sem a qual a vida é nada”, que adormeceu esperando por ele e por aquela pizza que ele preparou especialmente para comemorarem o aniversário de namoro. Sem falar que ele escolheu o filme, que dissemos que queríamos assistir, na locadora e foi buscar, apesar da chuva que caía. O amor é lindo!
Com o passar do tempo e muito lentamente, a apatia toma lugar do entusiasmo e “o que era doce, acabou-se”. Inexplicavelmente, as coisas mudam. E é inexplicavelmente mesmo! Por maiores e mais específicas conclusões que se queira chegar, é impossível encontrar um denominador comum.
Da nossa disposição do princípio, restam só as fotos, documentando a coragem e ousadia com toques de aventura tipo Indiana Jones, que deixaram de fazer sentido e fazem parte de um acervo distante e fora de foco, de que, muitas vezes, nem queremos lembrar.
Quando as relações amorosas alcançam o seu término, um único sintoma se contrasta: a indiferença. Uma plácida apatia toma as rédeas dos afetos e pronto! Onde se lia ardor, leia-se desinteresse. Ao invés de arrebatamento, inércia.
Nessas ocasiões, nem sempre o desfecho se dá de comum acordo e sob as mesma circunstâncias. Misteriosos labirintos os das paixões humanas, que começam num ritmo semelhante e que acabam em descompasso. Sabe lá a razão!
Como Jair Amorim e Ewaldo Gouvêa tão breve escreveram: “No amor é sempre assim: -só chora um dos dois. Primeiro alguém, agora eu. Será você depois”.
O destino, que elabora os planos e provoca os encontros, ainda, não conseguiu acertar nos dispositivos de arremates dos amores, em seus desfechos.
E eu, constantemente, surpreendida pelo óbvio, pelo presumível, constato minha inconformidade com a apatia. Sou fã incondicional do entusiasmo. Na dúvida, aposto no ardor, nunca na inércia. Mas, não fico imune aos imprevistos é claro.