quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O que eu quero para a minha vida?

O que eu quero para minha vida? Você me perguntou isso?

Que tipo de pessoa pergunta isso para outra?
Que tipo de pessoa pergunta isso para si mesma?
Eu sei. Eu, você e o resto do mundo.
Por isso todo mundo vive correndo. Todo mundo vive sem tempo. Todo mundo vive carente. Todo mundo vive com uma angústia enorme no peito. Porque a gente quer abraçar o mundo. A gente quer amor, felicidade, liberdade, sucesso, dinheiro, paz, saúde, beleza, amigos ótimos, diversão e uma lista interminável de coisas (aquelas que a gente deseja no começo do ano).
Bom, mas o que eu quero dizer hoje é que construir um futuro a longo prazo dá um puta trabalho. E nem sempre dá certo.
Sim, você resolve que vai ser psicóloga na vida, ganhar rios de dinheiro, casar com seu grande amor, ter uma filhinha linda de olhos puxados, escrever um livro e plantar uma árvore.
De repente, than-than-than-than! O tempo passa e o futuro vira um presente que não estava no script.
Você vê que não vai mais se casar. Vê que sua "Casa-Vogue" com jardim e banheira vai ficar só no papel e decide ir à luta. Sozinha.
O que fazer numa hora dessas? Cuidar de si mesma. Contar com os amigos. Arrumar outro emprego. Ser psicóloga até às duas e vendedora de loja de quatro às dez. Malhar mais. Comer direito. Ler poesias. Falar palavrão. E ser forte o suficiente para conseguir alcançar o seu mais novo objetivo, seja ele qual for. No meu caso, é (e está sendo) comprar meu primeiro apartamento.
Aí começa a outra história (que muitos de vocês estão acompanhando): imóveis estranhos, corretores desonestos. E nada que combine bom-gosto com minha conta-corrente.
Frustrada?
Não. Por incrível que pareça estou feliz. Meus planos de antes não deram certo. O passado passou e reinventei o percurso. Cresci. Hoje tenho um grande amor. Vou estudar para concursos, ser funcionária pública, daqui um tempo me formar e vou comprar minha liberdade o quanto antes. Todos dizem que tudo na vida tem seu preço. Que preço vale minha felicidade neste instante? 80 mil reais depois de fazer cara de piedade para o corretor. É isso? Não, longe disso. A felicidade de ter um lugarzinho só meu vale muito mais que o preço absurdo que o proprietário quer. Vale minha liberdade. Entrar e sair a hora que eu quiser. Ouvir música alta. Receber quem eu bem entender. Não conversar em código pelo telefone. Minha solidãozinha (tão amada!) nas horas precisas. Meu computador sem senhas. Meus segredos... Muita coisa na vida não tem preço - aqui dentro da gente.
Mas é ruim saber que no mundo real é diferente. Liberdade custa caro. E eu não posso dividir o pagamento, nem dar uma entrada, 30, 60 e 90 dias. Liberdade tem que ser à vista.

Penso que existe um outro tipo de liberdade que ninguém compra, vende ou troca na esquina: a liberdade de mudar. Mudar de vida, mudar de rumo. Mudar de idéia. Ou simplesmente mudar porque o "longo prazo" não deu certo.

Ah, ta aí uma coisa que não tem preço.
Principalmente quando se tem coragem de pagar pra ver.

Faxina da alma

Faxina na alma: hoje meu dia foi assim. Resolvi fazer as pazes com meu coração. Joguei o lixo fora. Aprendi que pisar na grama valem dez sessões de terapia. Vi que às vezes a gente chora de orgulho da gente e não há sensação melhor que essa. Entendi que a gente também morre de amor e isso não é sinal de fraqueza se aprender a ler com coragem as linhas do coração. Aceitei que viver vida de gente grande dá um trabalho danado. Mas também dá uma felicidade enorme porque faz a gente crescer bonito. Hoje eu levei um puxão de orelha e um beijo na testa porque eu quero ser uma pessoa melhor. Eu quero te dar um beijo de boa noite e quero que você saiba que eu sou só uma mulher aprendendo a viver. Uma mulher aprendendo a escrever e a amar. Uma doida varrida que se preocupa com cremes, livros, energias cósmicas. Uma menina que chora quando vê a carta sol do tarô, que quer comprar uma apartamento mini e que gosta de dormir abraçada, com os pés enroscados debaixo do edredom. Uma mulher tão igual. Uma mulher tão diferente. Que procura ser boa, não quer ser julgada e às vezes fica de cara feia porque acordou inchada.

Brincar de futuro

Pode ser que você mude de idéia amanhã. Ou talvez eu mude. De repente vamos acordar e ver que não existe mais motivos pra tanta coisa. Mas por enquanto, posso fazer planos com você? Mesmo que você vá embora pra sempre no mês que vem, me troque por alguma cafoninha, posso falar de futuro? Você não precisa pagar minhas contas, lavar minhas roupas ou emprestar seu cartão de crédito. Muito menos, ao fim de cada frase relacionada ao futuro, dizer que era tudo brincadeira. Isso não é um contrato pra assinar embaixo. “Atesto aqui que todas minhas promessas podem ser quebradas num futuro indeterminado, caso mude de idéia. Atesto também que algumas frases melosas podem ser mero exagero, ditas apenas para fomentar o romance”. Eu sei que funciona assim e aceito as condições. Pode parecer sem sentido falar onde jantaremos quando completarmos cinco anos juntos. Não tem problema. Quero que seja só isso. Uma conversa de beira de ouvido, despretensiosa. Coisas ditas num domingo frio e cinza, com televisão ligada em qualquer lixo, porque simplesmente temos preguiça de mudar de canal. Segredos ditos entre uma soneca e outra, no meio do café ou durante um abraço embolado no lençol. Verdades que podem durar um segundo ou um minuto, mas ainda que temporárias, verdades. Mas é tão gostoso planejar tudo com você, saber tudo que você pensa sobre as maiores inutilidades do mundo. Quando eu perguntar se vamos acompanhar as Olimpíadas de 2012, diga que sim, sem nem perguntar onde vai ser. Nem eu sei onde vai ser. E tudo bem se até lá mudarmos de idéia. O importante é que agora você queira estar lá comigo em cinco anos. Ainda que em cinco anos desista. Decidir que flor plantaremos no jardim ou se o quarto deve ter uma televisão. Eu voto em não. E você? Pode falar, fala sim. Sem medo de nada disso acontecer e nos sentirmos dois idiotas. Sentir saudade dos planos que nunca se realizaram é uma das coisas que mais doem quando tudo acaba. Mas prefiro isso a não poder brincar de futuro com você.