quinta-feira, 14 de maio de 2009

O perdão...


Disseram-me numa ocasião, que perdão não deveria ser pedido, nem oferecido.
Discordei plenamente.
Perdão é uma atitude nobre, tanto de quem pede quanto de quem aceita. É uma via de mão dupla em que trafega o melhor do ser humano, quando se supera no reconhecimento de suas faltas e no arrependimento redentor. O perdão oportuniza a retratação, o refazer, o capitular, o voltar atrás.
Perdão é a chance de consertar o coração para que retorne a funcionar com batimentos sintonizados com a paz. É a ponte de safena da vida depois dos solavancos, dores e desgastes. Bálsamo que vence o lapso de tempo entre a ofensa e o esquecimento, tirando o senhorio implacável do silêncio e da distância, que se instalam como carrascos dentro do peito.
Perdão é o pedido que faço aos que me cercam. Perdoem-me por invadir “suas praias” e não respeitar seus momentos de isolamento. Perdoem-me pelo atropelo das palavras e excesso de gestos. Perdoem-me pelas vezes que os magoei com minhas omissões e intromissões. Perdoem-me quando fui sombra e precisavam de luz, quando não percebi que desejavam colo e cruzei os braços. Perdoem-me por ter pedido mais do que deveria e por não ter me contentado com pouco.
Admitir meus deslizes é o passo dado na direção intencional de corrigi-los. Nisso o embasamento da minha petição.
Nos cartórios do fórum do meu viver, distribuo meus processos com postulações baseadas no direito adquirido do ressarcimento de danos e reparação e perdas.
Acredito firmemente que tudo pode ser perdoado por mais grave que tenha sido o delito.
De minha parte, perdôo a quem me feriu, magoou, invejou. Perdôo a quem destruiu minha alegria e aniquilou meus sonhos. Perdôo aqueles que, por imprudência, negligência e imperícia, arrancaram um pedaço da minha alma.
E se, ainda, encontro vestígios de sangue pela minha alma, das várias vezes em que “me assassinaram”, solto a voz e apregôo o perdão como sinal de sobrevida e danem-se os que me mataram. “O jeito de sorrir que eu tinha”, pode até ter desaparecido, mas não de todo. Continua iluminando o que não puderam levar de mim.
O perdão é a esponja de limpeza, é a dose dupla de óleo canforado, é a cura para a dor do remorso.
Pedir perdão é humildade. Perdoar é sublimação.
A anistia tem que ser ampla, geral e irrestrita.
Irreversível não é a falha; irreversível é o não pedir perdão, nem perdoar.

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