terça-feira, 16 de setembro de 2008


Todos os dias morre um amor. Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor. Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de rotina. Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos. Morre em uma cama de motel ou em frente à televisão de domingo. Morre sem beijo antes de dormir, sem mãos dadas, sem olhares compreensivos, com gosto de lágrima nos lábios. Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, bilhetes cada vez mais concisos, beijos que esfriam aos poucos. Morre da mais completa e letal inanição. Todos os dias morre um amor. Às vezes com uma explosão, quase sempre com um suspiro. Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutamos em admitir. Porque nada é mais dolorido do que a constatação de um fracasso. De saber que, mais uma vez, um amor morreu. Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa. E esta é a lição: amores morrem. Todos os dias um amor é assassinado. Com a adaga do tédio, o veneno da indiferença, a forca do escárnio, a metralhadora da traição. A sacola de presentes devolvidos, os ponteiros tiquetaqueando no relógio, o silêncio ensurdecedor depois de uma discussão: todo crime deixa evidências. Todos nós fomos assassinos um dia. Há aqueles que, feito Lee Harvey Oswald, se refugiam em salas de cinema vazias. Ou preferem se esconder debaixo da cama, ao lado do bicho-papão. Outros confessam sua culpa em altos brados, fazendo de pinico os ouvidos de infelizes garçons. Há aqueles que negam, veementemente, participação no crime, e buscam por novas vítimas em salas de chat ou nas baladas, sem dor ou remorso. Os mais periculosos aproveitam sua experiência de criminosos para escrever livros de auto-ajuda com nomes paradoxais como "O Amor Inteligente", ou romances açucarados de banca de jornal, do tipo "A Paixão Tem Olhos Azuis", difundindo ao mundo ilusões fatais aos corações sem cicatrizes. Existem os amores que clamam por um tiro de misericórdia: corcéis feridos. Existem os amores-zumbis, aqueles que se recusam a admitir que morreram. São capazes de perdurar anos, mortos-vivos sobre a Terra teimando em resistir à base de camas separadas, beijos burocráticos, sexo sem tesão. Estes não querem ser sacrificados, e, à semelhança dos zumbis hollywoodianos, também se alimentam de cérebros humanos, definhando paulatinamente até se tornarem laranjas chupadas.
Existem os amores-vegetais, aqueles que vivem em permanente estado de letargia, comuns principalmente entre os amantes platônicos que recordarão até o fim de seus dias o sorriso daquele moreninho da 4a. série, ou entre fãs que até hoje suspiram em frente a um pôster do Elvis Presley. Mas hesito em dizer que isso possa ser classificado como amor (Bah, isso não é amor. Amor vivido só do pescoço pra cima não é amor).
Existem, por fim, os amores-fênix. Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das contas a pagar, da paixão que escasseia com o decorrer dos anos, da TV ligada no Faustão ao final do domingo, das calcinhas penduradas no chuveiro e das brigas que não levam a nada, ressuscitam das cinzas a cada fim de dia e perduram - teimosos, e belos, e cegos, e intensos. Mas estes são raríssimos, e há quem duvide de sua existência. Alguns os chamam de amores-unicórnio, porque são de uma beleza tão pura e rara que jamais poderiam ter existido, a não ser como lendas. Mas não quero acreditar nisso, afinal, tenho a certeza que o meu é esse! ;)

2 comentários:

KANAAN disse...

AIIIIII, tambem nao quero ser pretenciosa, mas meu amor é fenix....resiste a distancia, resiste a saudade, as minha crises existenciais e sentimentais....Ele resiste, e quando eu acho que esta apagando aquela famosa chama, algo provoca uma combustão ainda maior!!!!Eu acredito no amor, e mesmo que alguns tenham morrido(eu nao acredito nisso)prefiro dizer que eles somente se tornaram fogo brando....pq uma vez amor, pra sempre amor...amor do passado mas amor....seja só pelo fato de lembrar que um dia amou e foi amado, ou só amou e foi rejeitado, nao deixa de existir nem que seja na lembrança.....prefiro pensar que alguns amores acalmam, viram amizade ou nem isso mas sempre boas lembranças.....melhor eu parar de falar do amor....senao isso deixa de ser um comentario p se tornar um post...mensagem final: EU ACREDITO NO AMOR!!!!!!!

Andy disse...

Nossa, muito profundo e lindo.
Acredito no amor, mas já houve tempos em que pensava que ele fosse para sempre chamas acesas e hoje sinto que as chamas se apagam sim, principalmente se não tiver comburente suficiente para manter a combustão.
as o mais importante de tudo é sempre ter um amor para recordar, pensar e principalmente sentir.
bjaum